Seja deixado à sua porta pela manhã
Nas asas de uma colorida borboleta
No pingar suave das gotas de chuva
Emanando sem perceber, luz
Que isto seja grande enquanto vivo
Que seja tudo o que preciso
Se com tua altivez pudesse retratar
Trazer este incêndio gradual que queimas
Toda tua beleza no espelho
Tristes verdades que cospe em meus olhos...
...secos olhos sem a chuva de tua vida
Suas vestes internas trazidas por um canto
Miúdas palavras balbuciadas sem ritmo
Com a clareza dos deuses, com a leveza...
De um tapa na cara que lhe beija!
Seca a água que lhe molha o corpo
Antes de tua investida fria, sem coração
Hei de entender que assim já não posso
Ver-te como tal, jarro de luz, besteira
Que quando me envenenas, sorrio
Vendo a lua que te deixas arfante
E, se deste lado eu insisto em ser-te errante
É que não conheces toda minha poesia
Por que se vejo aquilo que a paz apraz
Não seria justo deixar a rua e seguir pro cais?
Partir sem adeus dizer, morrer sem amor te ser?
Veio pálida como o orvalho
Um molde cru nas mãos
Uma lata velha querendo descoberta
Uma pétala escondida
Veio em minhas mãos
A flor que outrora quis
Sonhei, quais cheiros oculta?
Sob olhos desafiadores
Veio pálida como o orvalho
A pétala desejada, plenamente branca
Com suas cores diversas
Ventando meus olhos
Veio sem devaneios, despojada
De suas palavras de repulsa
Olhos nos olhos, corpo
Devaneios que outrora eram sonho
De flor em flor sussurrando ao mel
O que a água não sabia, é que morria
Ante a ferocidade de suas mãos
De flor em flor ela deixava sua marca
Atrocidade desconhecida, desconexa
Mundo estranho, de flor em flor
Ela apagava sua memória feliz, sopro
E ele esquecia assim que a amava
Ela, o pedestal de um amor platônico
E a lama que cobria seu coração
A água lavava, e de flor em flor
Ele a observava, feliz com seu sorriso
De flor em flor ele a seguia...
Seguia para ser um idiota feliz
Feliz por ser seu sonho mais distante
Entre um sopro e um cuspe, ela o beijava
No átrio ela apenas pedia aos deuses
Livrai me deste idiota, mas ele seguia
Que de flor em flor ele a achava, ofegante
Porém triste entre as construções, olhos
Que a fitavam, não como uma flor
Talvez perdida, talvez borboleta sem asas
Mas eu a esperava, introspectivo num sonho
Temendo por sua felicidade, que buscava
De flor em flor, com ódio e com amor
Estava ali para tudo e para nada neste fim
Que de flor em flor, eu lhe achava, amava...
O poste parado tudo contempla
O pedestre desajeitado
A bicicleta recostada
O carro que vem vem e 'plac'
Sirene, sirene, sirene
O poste continua parado, contemplando
Imprudência, imprudência
Pensava ele, absorto em seu concreto
Um arranhão muito indigesto
Silêncio, silêncio, silêncio
O poste na rua mira tudo
O cachorro que passa e lhe banha
O ser gentil que de fome reclama
O carro que com presa lhe porra
Desastre, desastre, desastre
O poste também não reclama
Em seu topo um pássaro canta
Seu alento na noite sem cama
Dorme em pé sem chance de fama
Isola, isola, isola
Se eu pudesse lhe alcançar, andorinha
No remanso em que percorre, domina
Pousaria meus olhos em suas asas
Surfaria no vento suas passadas
No ritmo que dá ao céu que povoa
Se eu pudesse lhe alcançar, andorinha
Nas paragens que contempla a vida
Seria o lago que saciaria sua sede
No descanso das asas cansadas
No pensamento plano do outro vôo
Se pudesse também ser andorinha
Voaria distante pra colina
Tentando entrar em ressonância
Com a batida dos ventos
Qual som escuta quando voa?
Voaria distante pra colina
Tentando entrar em ressonância
Com o som que reflete a alma
Se eu pudesse alcançar esta andorinha
Que vive voando pela minha varanda
Escondida quieta num remanso
Com olhos de águia, caçando palavras
Suas palavras, escassas...
Se eu pudesse alcançar esta andorinha
Que vive pousando pelo caminho
Escondido dos meus olhos, perdido
Caminho escasso, amor calado
Seu peito, avassalador...
Se eu pudesse ser uma andorinha
Voaria este caminho que caminha
Se eu pudesse ser uma andorinha
Me esconderia na maior montanha
Onde o ar não me faltaria
Onde do mar me abdicaria
Onde com seus olhos eu sonharia
E onde feliz eu morreria, feliz...
Que a intensidade daquilo que sinto
Seja deixado à sua porta pela manhã
Nas asas de uma colorida borboleta
No pingar suave das gotas de chuva
Cativando seu desviado coração
Emanando sem perceber, luz
Que isto seja grande enquanto vivo
Que seja tudo o que preciso
Que sem você não sei viver
Tento até não esmorecer
Ante esta ideia de desistir
Tentar sem ver a cor da luta
Quando vencida com palavras
Quando contigo sendo amadas
Quando lê, transporta
Quando vê, se importa?
Quando e se, há volta?
Há sim a explosão
Quando crê, certo está
Quando sê, volta ao início?
Quando e tê, caminhos
Há sim a emoção
Por vezes estar
Onde quer que não esteja
Onde for a paz destreza
Por alguns segundos paz
Sem o brilho ensolarado
Desta chuva de raiva
Contínuo em meus sonhos
Continuo em meus braços
Cada trecho da minha alma
Que se perde com o coração
Nos olhos cravados no peito
Pedaço de uma intensa oração
Tendo o pássaro alçado vôo
Levando consigo um pedaço
Do vento que me trouxe
A leveza do seu perfume
Levou consigo também
Todo o intento do que pude
Contínuo em meus sonhos
Continuo em seus braços
Levado como um furacão
Para o berço de onde nasce
Um inquieto e tenso coração
Tomado por uma imensa saudade
Estes seus olhos penetrantes
Suas mãos conflitantes
Este seu cheiro ao vento
Esta penumbra em que se esconde
Sua luz pulsante
Obra apaixonante
Que se esconde sob o silêncio
Dosando seu mel lancinante
Esta sua aura de menina
De fazer triste sina
Neste ser, um puro errante
Que se esconde durante o dia
À espera dos ais diários
Que fazem desertos
Os áridos olhos do poeta
Dosando sua loucura de antes
No gelo que são estes minutos
Transformados em horas de solidão
Aguardando seus dedos sobre o diamante
Lapidando o dia que se passa
Que se esconde dos olhos meus
Consigo trazer junto da alma
Apenas umas palavras tais, que
Entregam meu coração ao seu
Você saía
Eu gritava
Quando queria
Você voltava
Não assim
Não aos gritos
Da janela eu
Não sabia o rumo
Daquilo que lhe ía
No corpo, na alma
No som apenas ouvia
Enya... E ía
Da janela gritava
E eu?
Apenas ouvia
Apenas me lia
E não sabia
Que lhe amava...
De verdade
É um norte sem bússola
Ainda assim me acho
Busco e lhe encontro
No sul, norte azul no mar
Banhada na areia enfrentando
O calor que lhe queima
A pele sob o sol, suas nuances
O olhar que mira e mata
É um norte sem bússola
Quando os olhos passeiam
E param de repente, fuga
É um norte em uma bússola
Para onde olhar é sorte
É um sussurro surdo de desejo
À beira do rio
No peito o brio
O eixo do peixe
Na rede anseio
Na face, sua sede
À beira do rio
No peito anseio
Meio do eixo
Na rede sede
Sob a lua, tu
À beira do rio
Riso rio ri
Araguaia afamado
Na rede nada
O peixe que foge
À beira do rio
O peixe que olha
A cama sob a lua
Sorri pelo certo
Hoje não é isca
No Araguaia some...
Este sorriso na praia
Como a vida leve
Os olhos que acompanham
Esta alegria breve
Breve por que há
Entre você e meus dedos
A serra do urutu
Donde brotam ilusões
Que são como bolsões
Ante este riso de menina
Sob sua aura menina
Toda feita de perdões
Que me encanta, cede e rima
Como se fosse minha toda
Eu sigo você, mesmo parado
Meu coração vai até o seu
Em pensamento andando
Onde haja ao menos um sorriso seu
Mesmo que triste eu me encontre
Eu sigo você, digo pra mim
Digo pra mim e mudo o rumo
Basta saber, está bem
E no perfume da manhã
Quando o sol se desprende do mar
Quando encho o peito de ar
E penso: mais um dia
Poderia gritar, mas me calo
Nestes dias obscuros
Por umas palavras mal ditas
E a porta que fecho, ficou aberta
Por anos à espera do seu olhar
A fresta estará lá, entreaberta
Quem sabe o dia de amanhã?
Eu sigo a mim, nestes dias
E as palavras rastejam sob o eu
É sobre tudo que não foi
É sobre tudo que não quis
Sempre foi sobre tudo que não fiz
Não veja as coisas deste jeito
Você sabe muito a meu respeito
Não me atire pelas costas
Pois eu sei lutar
Nesta onda de ilusões
Onde o certo encontra o errado
Neste barco de ilusões
Vou me afundar
É o reflexo do amor
Das coisas que sei contar
É a certeza de que a dor
Pode enfim cessar
Não veja as coisas deste jeito
Não duvide do meu respeito
Não peça para eu voltar
Pois eu posso aceitar
Nesta onda cristalina
Onde o amor me alucina
Há um barco repousando
Quieto a nos esperar
É o reflexo do amor
Das coisas que sei contar
É a certeza de que a dor
Pode enfim cessar
Num único momento
Juntando tudo que não
Pode...
Pode ser assim, meio louco
Meio eu
Num único ato
Juntando eu
Pode ser um segundo
Uma onda na praia
Num único momento
Juntando assim os mitos
Do que faço, vejo
Posso?
Ser assim tão eu...
A viagem é longa
Mas não meça seus passos
Deixe seu caminho à mostra
Mas não deixe que caminhem por você
A viagem é tensa
Mas não se esqueça do encalço
Aquele que liberta
E não se desfaça das lembranças
Um dia olhar irá
Para os frutos que tiverdes
Deixe que saibam dos seus dias
Nenhuma colheita é feita sem na terra pisar
Sob a meia luz nenhuma ideia
Nada me vem às mãos outrora vivas
Cheias de palavras e versos
Mas continuo olhando as teclas
Minha máquina me suga
Adentro me perco em você
Onde foi parar neste sobe e desce
Das letras barulhentas, cinzentas
Não retorne antes que tenha escrito
O que prometi para tirar-lhe de mim
À meia luz está difícil decidir
O que às escuras fica mais fácil
Desnudar seu corpo longe de mim
Escrever palavras descrevendo nosso fim
Se ela soubesse o que aqui se passa
Sem ondas ou devaneios
Fazendo de minha verdade esteio
Saberia que do fundo de minh'alma
Vem uma força que galopeia
Na direção oposta do que é certo
Se soubesse o quanto sofro
Com estas vontades que não controlo
Com este desejo que vem sem jeito
Arrasta o corpo e o coração só
Que não se apruma neste mar
Neste agito onde meu barco foi parar
Se soubesse que sou só coração
Inundado de palavras e só
Sem o senso da eterna prisão
Saberia que errado sou
E mesmo que errante sigo
Não queria estar em lugar diferente...
... deste que estou...
Fundo branco, parede quebrada
Pela cor que a preenche
Pela dor que não compreende
Fundo turvo, dos blocos dispostos
Em contraste com a pele
Com o corpo largado
Quanto aos olhos, não vejo
De tão profundos a sonhar
Com um beijo, talvez amar
Fundo branco, pano vermelho
Como o sangue de suas veias
Como os cabelos se misturando
À nave que lhe abriga, cogita
Tocar-lhe o corpo nú
Mas apenas lhe pousa
Tocar-lhe a pele alva
Mas apenas lhe pinta, repousa
A suavidade da vida que leva
Seu coração em meio a esta tela
Envolve, move, o corpo inquieto
As palavras ácidas, sendo expulsas
O tempo perdido dos minutos sós
Envolve, move, vai pra onde?
O corpo lento se afastando
Com as palavras sem nexo
E nada há que se envolver
Que se mover é quase uma ofensa
Envolve, move, então fica
Onde quer que queira
Com suas palavras ríspidas
Seu bom dia no grito
Surdo está meu coração
Evolvo, movo, pra longe então
O dia, dias, diariamente
Você nos olhos da alma
Seu corpo vai na mente
São os dias do repente
Os sons do dia diário
Sem seus gritos, sussurros
Músicas que entoam os cantos
Todas minhas, todas suas
O dia, dias, diariamente
O coração sabe que assim
O amor que ataca de repetente
Não é mais que beijo ausente
De um dia que não me lembro
Mas que me persegue diariamente
Acima, em frente, sorriso solto
Onde encontro assim
Suave, olhos vibrantes
A boca perfeitamente posta
Deixa a língua à mostra
A lua se contagia, maldade
Tamanha força que força
O brilho da desmiolada lua
Teimando se esconder do sol
Deste lado frio, aqueço meu coração
Observando tamanha beleza
Solta por aqui
Reflexo desses olhos
Que fuzilam meu desejo
Mas sob esta mira
No auge de uma canção
Se ascende este coração
Louco por fazer o certo, beijar-lhe
Tive um sonho
O melhor de todos
Sua boca beijava
Minha mão... Suave
Tive um sonho
O mais feliz
A disposição de suas
Suaves mãos
Num toque num dia
E tudo que havia
Eram ilusões
Num toque uma vida
E tudo que sabia
Era que estava num sonho
Nem tudo muda, nem estaciona
Se de tudo ainda não tirei nada
Algo mais há que se fazer
Senão a alma não se emociona
Não faz aquela festa solitária
Quando dos dias se espera
Nada mais que melhores momentos
Sem os tormentos
Sem meia verdade
Se hoje me calo, sigo mudo
Nem tudo muda, não mude
O silêncio que há parece terror
Mas este momentâneo tempo
Sem parecer ter alento
Terá vigor na renovação
Por que quando tudo parece perdido
É a hora mais escura no ser
Em que se refaz um coração
Um alguém
Além do além
Sobre o que se
Aprende amar sim
De onde vem?
Por onde vem?
Ser sim
Amado e o desejo
De um alguém que
Além do além
Sabe o se
Assim, tão bom
Um alguém
Num outro além
Assim tão suave
Como a manhã
Que como o mar
Sabe bem amar
E se o risco indolente que trago dentro de mim
Assaltado das proibições impostas
Fosse a flor que falta perfumar
A vida que do ser pensante brota
E se a foice que leva meu pesar
Vinda sorrateira sem um aviso dar
For invés de foice, arado
Para esta terra bem tratar
E se o errado fosse mesmo o certo
O corpo aflito não ficaria
Nem o coração só pereceria
Nesta terra que se plantando tudo dá
E se, ainda que e se fosse um senão
Com este seus olhos fuzilantes
Fossem um risco reluzente
P'esta alma tão errante
Que no calor se deixa ausente
Com a boca escancarada
Teimando as palavras desnudar
Como se amor fosse de repente
Onde não há maldade
Onde os dias são anos
Onde nada pode atrapalhar
Onde verdade é amar
Andar por entre ruas
Sabendo onde chegar
Lá onde tudo é possível
Onde chegar é tangível
Onde não há senão
Onde não há o julgar
Onde possa trabalhar
Onde o mito é do pensar
Calar ante o anseio
Sabendo que sei amar
Lá onde isto faço
Onde isto é fácil
Nenhuma estrela, nenhum sinal
As nuvens densas seguem festeiras
Se noutro dia as águas deste céu
Corriam sedentas por este manancial
Hoje parecem duras, subindo a ladeira
Nenhum movimento, nenhum espasmo
Neste ser que habita o não sei quê
Se noutro dia sabia o nome disto
Neste céu já não sei nem o nome
Do que lá trás chamamos de estrelas
Nenhum cheiro, perfume tampouco
Um corpo nú deixado à revelia
Por que outro dia ousou despir à fria
Que era a água vinda lá do céu
Numa onda avassaladora de ais
Nenhuma onda, nenhum sinal
Nem o olhar que vem do nada
Chega brilhando na tela apagada
Consome a tez, consome o tal
Do que um dia chamamos de paixão
Qual mão lhe mostra as garras
À beira do precipício, lhe cerca
Puxa seu corpo para si e escarra
Larga-lhe o pulso e o sangue jorra
Qual mão lhe mostra a palma
Dizendo pare, senão lhe jogo
Pra baixo entre pedras e mato
Fazendo assim morrer, de amor
O abismo que se abre
O vento que lhe sopra forçado
Vem da queda em livres rodopios
O abismo que consome
Agora toda sua força em palavras
Vem do choque vivo daqueles olhos
Suavemente te expor
Suave, mente a te pensar
Que de tão doída esta dor
Anestesiou este mal-estar
Se numa peça estivesses
Encenando a vida crua
Se tropeçasse neste palco
Acabarias enxergando, que
Nada posso o que quisestes
Que de tão doído este corpo
Em horas tais que não esqueço
De possuir teu endereço
Suavemente para contar
Que vim aqui para te amar
Tuas mãos, não são de mim
Teus olhos turvos, tira-os
Pois se medes meu corpo
Expurgo teus ais, vis
Tuas mãos aqui, liberta
A menina que chora
O corpo que desejas
Não queres estragar
Tua vida, minha vida
Meu fio de esperança
De um dia lutar
Com as palavras que tenho
Com as que não tenho
Verás, você vai pagar, parar, pairar...
Doce noite. Convite feito
Saio ali, flores vejo
Na mesa coisas, seus afeitos
Me vê sorri, eu meio sem jeito
Doce tudo, convite aceito
Se fui ali, foi assim perfeito
Na escuridão da noite
Por seus olhos me guio
Noite assim tudo desfeito
O peso leve, carrego no peito
A face vem, há nada feito
Neste escuro a mão suave afeita
Este rosto frio, quente por dentro
Os olhos miram, algo se ajeita
Esperando seu ser, onde dói?
Qual poesia com vinho qualquer
Qualquer seria bom... Mas dói
Vencer a madrugada, acordar para nada
O viver se acomoda nuns dias
Mas os dias já não recebem do sol, luz
Esperando pelo quê... As palavras
Vindas como um furacão
Fazendo deste coração, um despedaçado
Vencer o que de madrugada, nos leva
Nestes sabores da uva doce casca
Não casa com os dissabores seus
Que esperando pelo que tudo
Nada fez por merecer... Palavras
Que gostaria, de realmente escrever..
Hoje o que faço?
Deito-me, refaço
Aquilo de longe, meu eu
Onde foi que
Perdi, sua inconstância
Seus gritos
Sua fúria!
Perdi, mas calmo estou
Hoje?
Hoje me refaço
Sob seus olhos
Seu triste ser
Amo aquela que hoje
Hoje me faz, ser hoje eu...
Durante a noite penso em você
De dia também
Durante a sesta penso em você
Antes também
Durante um momento a sós penso em você
Acompanhado também
Durante o trabalho penso em você
No descanso também
Por que durante esta vida
Por mais distante e preso
Sigo com a alma dividida
Durante estas palavras penso em você
Durante o sono sonho com você
Por que talvez eu saiba, não vivo sem você
Teus olhos no espelho quando me vejo
Teus sentidos esmagando meu coração
Como a água que escoa da gruta fria
Teu amor fica cada vez mais distante
Então calar, partir e secar, os olhos
Não é o bastante, fixo o nada, não há mar
Que sustente estas ondas,
Então partir, calar e aceitar, acabou
Teus revoltos olhos miram longe
Meu peito denso te aguarda quieto
Não se vai, mas é melhor partir?
Vou partir este coração ao meio!
Metade te espera, metade se vai
Assim quando quiseres, me amas
Queria contigo ir-me daqui
Em teus braços chegar
A televisão ligar e ouvir
Teus sussurros nesta tarde
Teu corpo chamar e sentir
Tuas mãos, teus olhos
Não há aqui outra delícia
Que não estar contigo, só
E vou-me daqui, coração
Apertado como a passagem
Do céu que nos espera
E vou-me daqui, coração
Acertado como tu
Vivo vivendo seus olhos
Da aura da noite teu aparecimento
Do esquecimento dos dias retendo
O que não se explica nem crucifica
E em tudo que vejo poder descobrir
Teu sopro de inspiração é real, real
Da aura da noite a chuva que chega
Para resgatar o calor do corpo são
O que não explico é algo doce, sim
Aquilo que estranho está no coração
Teu sopro de inspiração presente
Do corpo noturno da lua subindo
No alto do céu, aqui sou teu réu
Sentado, esperando, palavras
Aquilo que estranho se faz aqui
Do lado que rege os dias sem ti
Devagar com as palavras
Não deixe que elas tomem
De si o que há em mim
Devagar com as palavras
Permita-se errar, mas cuidado
Palavras nunca erram, apesar
De nos dias seguintes
Não parar de machucar
Devagar com as palavras
Talvez seja fácil antes pensar
Deixar de lado o coração
Com prudência no amor
As palavras bem pesar
Para de dor não padecer
Nenhum cão se arriscaria a tanto
Ligar?
Mas como um ser pensante
Relutante dentro de mim
Pensando nesta chuva
No piso escorregadio
Nas palavras lisas que vem de sua boca
Poderia pular estes patamares
Enfim discar seu número
Ouviria os trovões daqui?
O cão estaria do outro lado
Não me defenderia de sua voz ríspida
Minhas lágrimas seriam misturadas à água caindo
Não saberia onde começaria minha roupa molhada
O guarda chuva não seria suficiente
Mas tentaria de novo ouvir
Quem sabe a chuva se invertesse num sol
Mas o cão não viria
Não me defenderia de sua rispidez
Eu estaria condenada a uma ficha na ligação
E esta também seria perdida
Nenhum cão se arriscaria a tanto
Mas eu liguei...
Os olhos passeiam em sua alma
Sobre o seu sorriso, apenas ver
Saborear o seu perfume na cozinha
Ver a cidade correndo feito gente louca
Mas o som que escuto vem do rádio
O som selecionado por sua cabeça
Que carrega a voz inquietante...
... dos meus sonhos
Os olhos passeiam em seu jeito
Esbaldam-se no seu andar
O cheiro que traz consigo, o dom
De poetizar sem usar palavras
E da porta perceber que é errado
Que usar palavras deveriam ser
Mais que o silêncio que tenho guardado
Deveriam ser como poesia muda
Os olhos que trago de sua face
Atrelados ao que trago no peito
Sob a costura que fiz e guardei
Não vá muito longe, não se perca
Pois do cheiro seu, guardei o rosto
Que como o som que ouvia no rádio
Leva-me longe nos sonhos da noite
Tão longe que acordo sendo seu
Não sei ao certo
O quão certo sou
Vou quarando
Este errado coração
Para ver se clareia
Semelhante à sua paixão
Não sei o raso
Do errado que fui
De tão profundo
Atolei na convicção
Que se certo não sei
Foi uma amostra do seu perdão
Sei que sim, certo
De tão errado que estava
Convicto de que
Sob o sol clareia
A mente insana
O coração sem razão
Num dia comum, um nome comum
Uma vontade esquecida, qual dia
Ficou, lavrou a certidão, lavou a alma
Num dia comum, me viu?
Largado na cama, no chão, na praia
Ver-lhe de longe intocável
Tocar suas palavras
Saber de você
E saber que é amável
Num dia incomum, um nome destrói
O que há de ser dos dias comuns
Se na alma o desejo de você longe vai
Quase que dorme, quase que sela
Nada demais, mas é tudo através
Os segundos que vêm dos minutos
Das horas que conto para ver-lhe
Somem rápido neste relógio da parede
Angustiam demais meu coração
Os segundos em seus olhos são ternos
Eternos gravados dentro do meu peito
São tão reais os irreais dias que chego
A sussurrar para mim, amanhã acontece
Acontece que saber que os segundos
Formam todo o conjunto do tempo
E sendo este devorador da juventude
Atenho-me na angústia de viver
Assim errante querendo lhe ver
Quando finalmente o tempo para?
Numa noite a lua enlua
Você me aparece linda nua
Arruma os cachos, de lado deita
O corpo acorda, você retorna
Numa noite a lua brilha
Briga o sono, obriga o som
Foi tudo bem, mas foi em vão
Não sonho mais não sou a lua
Que abriga sob sua luz
Crises de choro, jeitos vis
Do grito mudo, gestos insanos
Numa noite a lua enlua
Vem assim sobre o perdão
Somente amor, somente não
Sua pele, seda pele de suor sabor
Sua boca, doce boca de suave dor
Quando morde, secos olhos, pavor
Corpo quente, mente sã, seu toque
Corpo curvas, saudade amor que há
Curvas de amor, saudade que já dói
Que deste lado um infinito se abre
Curvas só, corpo que perfeito constrói
Sua pele, seda pele de qualquer torpor
Boca leve, mãos que percorrem, o ser
Quando morde, louco fico, seu toque
Seu corpo fala, me toca, assim exala
Qualquer coisa que em mim, me fala
Louco sou, assim estou, quer esquecer?
Eterna mania de errar
No peito vontade...
... de explodir, ser
Junto a ti andar, amar
Eterna mania de ficar
Do lado escuro do ser
Explodir sem ver
Tua louca mania de gostar
De mim do ser, poeta
Onde andas hoje, pois
Deveria minha boca beijar
Se ouvires minha voz
Não esqueças que sou
Um triste amanhecer
Tem dias que os dias de sol são doces
Noutros estes mesmos dias são torres
Tão altos para serem alcançados, sim
São difíceis os dias de chuva em mim
Tem dias que nada vale mais a pena, sou
Aquele que do mar leva o sal, sim, é real
O que sinto, em dias de sol, dias de chuva
Não importa, mesmo alto como torres
Não há elevadores para alcançar seu amor
Não há escadas para percorrer seu corpo
Mas há os olhos para apreciar sua alma
Se não há escuridão nos dias de sol
Também não fico perdido, e as flores
Todas juntas agradecem sua luz
Em algumas palavras cuspir o interior
Tornar real o escondido na alma
Importa uns olhos de ódio mirando-me
Em algumas palavras fugir para o paraíso
Bastam os dias de pleno amor
Onde o encanto dos olhos seus
Temendo ficar distante de mim
Aceitam toda a minha dor
Em algumas palavras delinear sua beleza
Que qual a uma manhã azul
Transpira suavidade e esperança
Novo tempo, novas carícias, quando começa?
Bastam as noites de pleno amor
Onde o encanto da luz baixa
Unida ao olor do quarto quente
Transpira rios do nosso vapor
Em algumas palavras ter-lhe
Nunca largar-lhe a mão suave
Novo tempo, nova vida
Basta-me acordar e sentir sua presença