terça-feira, 26 de maio de 2015

Meio ser meio só

Na aura escondida tua face ludibria
Os dias do meio ser só meio de ser
Não há força que sustente a chuva
Quando as nuvens estão dispersas
Na aura escondida tua face contamina
Teu olhar esmaece através do espelho
Onde no fundo encontro os meus
Sérios olhos mirando minha solidão

Meio ser meio só no meio de um nó
Os dias do inteiro são águas rasas
Não há aura viva de onde voltei ontem
Que quando as nuvens se carregam, o céu
Ludibriado com tua embriagues de palavras
Se põe até mesmo sobre um arco íris
Mas no fim, o fundo, no pote, uns olhos
Mirando os olhos que carregam tua alma

Na aura escondida tua face contagia
Chegado um momento de qualquer dor
Meio ser que carrega demais
Meio só que vive de menos, 
E os olhos no espelho, as mãos sobre teclas
Nada... nada... nada...
Meio ser, meio só, meio eu, meio tu
Onde no fundo, enfim me encontro

terça-feira, 19 de maio de 2015

Escrevendo

Sob a meia luz nenhuma ideia
Nada me vem às mãos outrora vivas
Cheias de palavras e versos
Mas continuo olhando as teclas

Minha máquina me suga
Adentro me perco em você
Onde foi parar neste sobe e desce
Das letras barulhentas, cinzentas

Não retorne antes que tenha escrito
O que prometi para tirar-lhe de mim
À meia luz está difícil decidir

O que às escuras fica mais fácil
Desnudar seu corpo longe de mim
Escrever palavras descrevendo nosso fim

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Errante

Se ela soubesse o que aqui se passa
Sem ondas ou devaneios
Fazendo de minha verdade esteio
Saberia que do fundo de minh'alma
Vem uma força que galopeia
Na direção oposta do que é certo

Se soubesse o quanto sofro
Com estas vontades que não controlo
Com este desejo que vem sem jeito
Arrasta o corpo e o coração só
Que não se apruma neste mar
Neste agito onde meu barco foi parar

Se soubesse que sou só coração
Inundado de palavras e só
Sem o senso da eterna prisão
Saberia que errado sou
E mesmo que errante sigo
Não queria estar em lugar diferente...
... deste que estou...

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Paro o tempo, desço e me olho
Sujo, num instante de coração aberto
Paro o tempo, desço e sigo sem mim
Por qual rua andarei assim? Sem minha parte

Paro o tempo, desço e me distraio
Na praia que me cerca, as raquetes dispersas
O braço de força comum, fora de mim
É quando o céu me anima, vivo

Paro o tempo e na brisa do mar me esqueço
Que longe de mim, nada sou além de pele
Onde foi parar aquele malvado coração?

Que costumava parar e me olhar, nas manhãs
Parou o tempo por mim e seguiu só
Fiquei contando os minutos, em mim um nó

terça-feira, 12 de maio de 2015

Fundo branco, pano vermelho

Fundo branco, parede quebrada
Pela cor que a preenche
Pela dor que não compreende

Fundo turvo, dos blocos dispostos
Em contraste com a pele
Com o corpo largado

Quanto aos olhos, não vejo
De tão profundos a sonhar
Com um beijo, talvez amar

Fundo branco, pano vermelho
Como o sangue de suas veias
Como os cabelos se misturando
À nave que lhe abriga, cogita

Tocar-lhe o corpo nú
Mas apenas lhe pousa
Tocar-lhe a pele alva

Mas apenas lhe pinta, repousa
A suavidade da vida que leva
Seu coração em meio a esta tela

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Envolto

Envolve, move, o corpo inquieto
As palavras ácidas, sendo expulsas
O tempo perdido dos minutos sós
Envolve, move, vai pra onde?

O corpo lento se afastando
Com as palavras sem nexo
E nada há que se envolver
Que se mover é quase uma ofensa

Envolve, move, então fica
Onde quer que queira
Com suas palavras ríspidas

Seu bom dia no grito
Surdo está meu coração
Evolvo, movo, pra longe então