terça-feira, 27 de junho de 2017

Paraíso

Por que você empreende fuga
Dos meus sentidos abertos
Meu peito quieto sussurra
Em sua saudade inquieta
Esconde o fogo sob a chuva
Mas ainda assim o fogo
Consumindo minha essência
Por que sua loucura perdura?

Não haveria confusão
Não fosse toda essa ilusão
Somos crias de dias estranhos
Feitos de pedra somos mutantes
Os pés alheios nos afrontam
Como fossemos sentimentais
Talvez apenas pessoas normais
Construindo alguma inteligência

Ao lado de palavras truncadas
Verdadeiros devaneios, dirá
Ainda que houvesse uma leve sensação
Que mostrasse enfim o que
De nós roubou sem perceber
Palavras de admiração, torpor
Que antes eram construídas
Hoje são traçadas num paraíso

domingo, 25 de junho de 2017

Alma plena

Espere... sob a lua
A meia distância
Sua cura
Amores distantes
Coração distante

Espere sob a lua
A toda distância
Nossa cura
Amores errantes
Almas juntas

Que nessa injustiça
Vida que segue injusta
Dorme serena
Beijo quente a dormir
Corpo a corpo... alma plena...

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Vivíamos

Por sobre muros caminhamos
Cada um de um lado do sol
Fazendo sombra, dormimos
Sem tempo para dizer adeus
Sem flores para regar, cuidar
Por sobre muros flutuamos,
Ruímos

A descida é vertical
O chão se engrandece na queda
Mas o som me denuncia
O rouco da voz guardada
Por sobre os muros festejamos
As flores secas receberam sol
Fluímos

De onde parto não tem volta
Cada um de um lado dessa nuvem
Densa como um vulcão
Frágil como um dente-de-leão
Os ventos nos arrastaram
 As flores enfim receberam abelhas
Vivíamos


sexta-feira, 16 de junho de 2017

Rarefeito

Pelas ondas do ar, sem mar
O mais alto que foi, sentiu
Que dentre as nuvens, meditando
A mais perfeita harmonia surgiu
Faltou ar, faltou falar

No alto de uma montanha, pousou
E de tanto que voou, descansou
Entre músicas e sons, sonhou
A mais perfeita harmonia emergiu
Soprou forte o ar, gritou

Lá do outro lado um pássaro acenou
Veio em ritmo lento e pousou
Sentou-se calado, se refazendo
Nada precisou dizer, senti
O ar rarefeito o transformou

Partiu sem olhar pra trás
E no mais alto que foi, encontrou
A felicidade entre nuvens
A mais perfeita harmonia
Respirou fundo e sumiu

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Rua

Não me olho no espelho
Corro em direção oposta
Na contramão do tempo
Observo o que gosta
Falo do enrosco, torto
Não, não me olho
Sigo em direção contrária
A rua fica escura
E o buraco nítido

Não me olho no espelho
Vejo um velho poeta cego
Que quando vê uma estrela,
Brilha,
Corre para o outro lado
Segue o seco do rastro
Pela rua iluminada
A lua se cala e silencia
A noite que foi só...