segunda-feira, 30 de março de 2015

Poetinha

Ah poetinha... tenho pena do sol
Quando dizes a ele que queima a alma
Por que tu, quando queres, sabes fingir
Para que palavras assim?


Ah poetinha... tenho pena da lua
Que vês tu de graça nisto?
Por que tu, quando finges, não sabes mentir?
Para que palavras assim?


Ah poetinha do além mar
Tens uma gosma nas entrelinhas
Que doem a quem passar


Ah além mar do poetinha são
Fingidor que se esconde
Em suas próprias escancarações

sexta-feira, 27 de março de 2015

Primavera

Na sala no canto estirado, largado calado
Os mosquitos revoando minha cabeça
Com os barulhos das asas sedentas de sangue
Na sala no canto resguardo, uns minutos...
... de olhos fechados...


Lá fora no vilarejo o ar parece limpo
Não há mosquitos zunindo em seu ouvido
E sem o barulho das asas sedentas de sangue
Você refaz o canto, tirado do resguardo...
... de olhos abertos...


Além das palavras que um pássaro canta
Surgem umas flores densas em suas cores
Peitos fortes com seus chapéus a colher frutos
A primavera que se avizinha, a árvore
Sempre crescendo, cada vez mais distante a atrair...
... uns olhos atentos...

quinta-feira, 26 de março de 2015

Oposto

Ondas coloridas de um vento quente
A chuva batendo na janela do carro
A velocidade sendo reduzida na mente
Num anoitecer mágico onde os olhos
Seus olhos sendo portal para a luz
A chuva cheirando no asfalto, indo
O vento avermelhado que traz um oi
Num anoitecer que parece dia, vivo!


Ondas estremecidas com o som dos ventos
A chuva se foi nesta manhã e sob o sol
O colorido tomou todo o céu, as aves saíram
No amanhecer seus olhos despertaram
Num cheiro de manhã com café e bolo
O vento aquietou-se quando ouviu sua voz
E o dia seguiu com seus caminhos entremeados
Seguiu com sua habilidade de misturar os dados

Abismo

Qual mão lhe mostra as garras
À beira do precipício, lhe cerca
Puxa seu corpo para si e escarra
Larga-lhe o pulso e o sangue jorra

Qual mão lhe mostra a palma
Dizendo pare, senão lhe jogo
Pra baixo entre pedras e mato
Fazendo assim morrer, de amor

O abismo que se abre
O vento que lhe sopra forçado
Vem da queda em livres rodopios

O abismo que consome
Agora toda sua força em palavras
Vem do choque vivo daqueles olhos

quarta-feira, 25 de março de 2015

Suave mente

Suavemente te expor
Suave, mente a te pensar
Que de tão doída esta dor
Anestesiou este mal-estar

Se numa peça estivesses
Encenando a vida crua
Se tropeçasse neste palco
Acabarias enxergando, que

Nada posso o que quisestes
Que de tão doído este corpo
Em horas tais que não esqueço

De possuir teu endereço
Suavemente para contar
Que vim aqui para te amar

segunda-feira, 23 de março de 2015

Expurgo

Tuas mãos, não são de mim
Teus olhos turvos, tira-os
Pois se medes meu corpo
Expurgo teus ais, vis

Tuas mãos aqui, liberta
A menina que chora
O corpo que desejas
Não queres estragar

Tua vida, minha vida
Meu fio de esperança
De um dia lutar

Com as palavras que tenho
Com as que não tenho
Verás, você vai pagar, parar, pairar...

O ponto zero

Doce noite. Convite feito
Saio ali, flores vejo
Na mesa coisas, seus afeitos
Me vê sorri, eu meio sem jeito

Doce tudo, convite aceito
Se fui ali, foi assim perfeito
Na escuridão da noite
Por seus olhos me guio

Noite assim tudo desfeito
O peso leve, carrego no peito
A face vem, há nada feito

Neste escuro a mão suave afeita
Este rosto frio, quente por dentro
Os olhos miram, algo se ajeita

sexta-feira, 20 de março de 2015

Furacão

Esperando seu ser, onde dói?
Qual poesia com vinho qualquer
Qualquer seria bom... Mas dói

Vencer a madrugada, acordar para nada
O viver se acomoda nuns dias
Mas os dias já não recebem do sol, luz

Esperando pelo quê... As palavras
Vindas como um furacão
Fazendo deste coração, um despedaçado

Vencer o que de madrugada, nos leva
Nestes sabores da uva doce casca
Não casa com os dissabores seus

Que esperando pelo que tudo
Nada fez por merecer... Palavras
Que gostaria, de realmente escrever..

terça-feira, 17 de março de 2015

Metade

Não tem o senão para o que penso
Que quando o pássaro vai à água
Somente bebe, do seu líquido
Metade de mim ama, a outra também

Não há o que pensar se se faz errado
Há as flores que banham meu quintal
Mas às vezes elas escondem seu perfume
Neste instante eu me escondo

Metade disto é paixão, a outra também
Sob seus olhos há aquele desejo
Escondido quando me vê, mas há
Há que se revelar tudo que anima

Metade disto é passageiro, a outra passa
Bem diante dos nossos olhos
Não fique aí parada sem perfumar...
Perfume esta metade,
Pois metade de mim é olfato...
A outra é desejo de sentir seu perfume...

segunda-feira, 16 de março de 2015

Hoje

Hoje o que faço?
Deito-me, refaço
Aquilo de longe, meu eu
Onde foi que

Perdi, sua inconstância
Seus gritos
Sua fúria!
Perdi, mas calmo estou

Hoje?
Hoje me refaço
Sob seus olhos

Seu triste ser
Amo aquela que hoje
Hoje me faz, ser hoje eu...

sexta-feira, 13 de março de 2015

Durante

Durante a noite penso em você
De dia também
Durante a sesta penso em você
Antes também

Durante um momento a sós penso em você
Acompanhado também
Durante o trabalho penso em você
No descanso também

Por que durante esta vida
Por mais distante e preso
Sigo com a alma dividida

Durante estas palavras penso em você
Durante o sono sonho com você
Por que talvez eu saiba, não vivo sem você

quarta-feira, 11 de março de 2015

Esperança

Teus olhos no espelho quando me vejo
Teus sentidos esmagando meu coração
Como a água que escoa da gruta fria
Teu amor fica cada vez mais distante

Então calar, partir e secar, os olhos
Não é o bastante, fixo o nada, não há mar
Que sustente estas ondas,
Então partir, calar e aceitar, acabou

Teus revoltos olhos miram longe
Meu peito denso te aguarda quieto
Não se vai, mas é melhor partir?

Vou partir este coração ao meio!
Metade te espera, metade se vai
Assim quando quiseres, me amas

domingo, 8 de março de 2015

Vi vendo

Queria contigo ir-me daqui
Em teus braços chegar
A televisão ligar e ouvir
Teus sussurros nesta tarde

Teu corpo chamar e sentir
Tuas mãos, teus olhos
Não há aqui outra delícia
Que não estar contigo, só

E vou-me daqui, coração
Apertado como a passagem
Do céu que nos espera

E vou-me daqui, coração
Acertado como tu
Vivo vivendo seus olhos

sexta-feira, 6 de março de 2015

Regente

Da aura da noite teu aparecimento
Do esquecimento dos dias retendo
O que não se explica nem crucifica
E em tudo que vejo poder descobrir
Teu sopro de inspiração é real, real

Da aura da noite a chuva que chega
Para resgatar o calor do corpo são
O que não explico é algo doce, sim
Aquilo que estranho está no coração
Teu sopro de inspiração presente

Do corpo noturno da lua subindo
No alto do céu, aqui sou teu réu
Sentado, esperando, palavras
Aquilo que estranho se faz aqui
Do lado que rege os dias sem ti

quinta-feira, 5 de março de 2015

Pesar

Devagar com as palavras
Não deixe que elas tomem
De si o que há em mim
Devagar com as palavras

Permita-se errar, mas cuidado
Palavras nunca erram, apesar
De nos dias seguintes
Não parar de machucar

Devagar com as palavras
Talvez seja fácil antes pensar
Deixar de lado o coração

Com prudência no amor
As palavras bem pesar
Para de dor não padecer

terça-feira, 3 de março de 2015

Ligação

Nenhum cão se arriscaria a tanto
Ligar?
Mas como um ser pensante
Relutante dentro de mim
Pensando nesta chuva
No piso escorregadio
Nas palavras lisas que vem de sua boca
Poderia pular estes patamares
Enfim discar seu número
Ouviria os trovões daqui?
O cão estaria do outro lado
Não me defenderia de sua voz ríspida
Minhas lágrimas seriam misturadas à água caindo
Não saberia onde começaria minha roupa molhada
O guarda chuva não seria suficiente
Mas tentaria de novo ouvir
Quem sabe a chuva se invertesse num sol

Mas o cão não viria
Não me defenderia de sua rispidez
Eu estaria condenada a uma ficha na ligação
E esta também seria perdida
Nenhum cão se arriscaria a tanto
Mas eu liguei...

segunda-feira, 2 de março de 2015

Inquietante

Os olhos passeiam em sua alma
Sobre o seu sorriso, apenas ver
Saborear o seu perfume na cozinha
Ver a cidade correndo feito gente louca
Mas o som que escuto vem do rádio
O som selecionado por sua cabeça
Que carrega a voz inquietante...
... dos meus sonhos

Os olhos passeiam em seu jeito
Esbaldam-se no seu andar
O cheiro que traz consigo, o dom
De poetizar sem usar palavras
E da porta perceber que é errado
Que usar palavras deveriam ser
Mais que o silêncio que tenho guardado
Deveriam ser como poesia muda

Os olhos que trago de sua face
Atrelados ao que trago no peito
Sob a costura que fiz e guardei
Não vá muito longe, não se perca
Pois do cheiro seu, guardei o rosto
Que como o som que ouvia no rádio
Leva-me longe nos sonhos da noite
Tão longe que acordo sendo seu