terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Ainda é cedo

Ainda é cedo para acordar
Não lhe saquearam o som
Nem o ar para respirar
Falta ainda lhe informar
Que noutro canto qualquer
Enfim vão lhe matar
Ainda é cedo pra acordar
Não lhe arrancaram o dedo
Nem ao menos sua roupa
Falta ainda consolidar
O doce que lhe dão
Quanta puta ilusão

Já não há mais o que fazer
Olhe pra trás e veja por si
Lá na terna mãe gentil
Democracia foi-se num funil
Degolada por quaisquer
Orquestrado pela tela
Não, você não quis acreditar
De tanto ódio, de si mesmo
Ficou no chão a gargalhar
Hoje ri?
Ainda é cedo pra acordar
Ainda não roubaram o chão de andar

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Ventos

Se esquiva, cala e sente
Engrenava antes a gira
O rebento que alçou
Das palavras mal ditas

Senão em outro canto
Da lira ou da construção
O medo se aquietou
Sobrando assim o coração

Quando esfria a cuca mente
Até pra um são parece enlace
Daquilo que foi-se com o vento

Quando salta aos olhos, dorme
O sabiá com encanto vela
O corpo fatigado da voz rouca

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O poeta

Inesperado, uma lembrança desmedida
Na lembrança todas as partidas
Que a poesia levou-me a andar
Partir sem olhar pra trás,
Andar sem sequer acreditar
Que o que está à frente é o melhor
Seja naquele cantar de um pássaro
Seja olhando crianças a brincar
Ou sob relâmpagos esbravejar
Todo o medo de a chuva enfim molhar
Tudo o que acredito
Tudo o que aprendi a gostar

O poeta não se deixa amedrontar
Enxuga o rosto e pede outra gota
Da chuva que da alma leva afã
Qual palavras que esquece de escrever
Qual poesia que conta apenas pra si
Esta hoje sai leve como a folha
De uma pitangueira chacoalhada pelo ar
O poeta não se deixa levar
Deixa apenas seu pulmão sentir o ar

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Mistura

Não tem o medo que tenho
Nada do que sinto
Talvez o sonho
Talvez aquilo que proponho
Se a política vai mal
Um coração novo já propõe
Não tem o medo que tenho
Talvez um novo
De onde vens, medo novo
Com esta força dominante
O cheiro da boca, nova
De longe chega, mira o alvo
Talvez aquilo que seja, o que almeja
Um novo amanhecer
Conhecer
Talvez o novo amanhecer
De onde vêm?
O que lhe convém, doce amargo dia
Que na noite encanta
Palavras poucas
Quase nulas
Tão pequenas que grandiosas
Me empurram
Para si, para mim
De novo ser, quando ter?
Não sei, talvez não saiba
Quando, quando, quando
De onde vêm?
Não sei, não sei, não sei
Vem daí daqui... De onde nasce
O sol majestoso...
Dorme, durmo...

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Dilma

Sob os muros da honestidade, os ratos
Aqueles mesmos que pegam nas canetas
Que lhe rasgam seus direitos, com veneno
Estão escondidos antes das telas
Aquelas que lhe mostram o refri da moda

Abrem-lhe o sorriso e lhe afagam
Tudo ficará bem, bendito a quem temer
Sob os muros, antes dele e depois
Furtam-lhe os direitos, quais rebanhos
Adestrados em empinar uma pipa bonita

 E tu, podre de pobre a admirar a pipa
Acharás tudo tão belo que o cerol
Ao cortar-te a nuca, ceifará tua vida
Será tarde, talvez
A quem temer?

E eles, podres de rico a admirar sua caça
Verão graça em uma taça de cristal
Outros ratos furtando o queijo, fome
Haverá jeito?
Será talvez tarde... Temer? Jamais!

Sobre os muros da honestidade, insetos!
Aqueles mesmos que ouviram a rainha
Que em vermelho sangue trazia na boca
Em cada pelo de rato escrito sua culpa
Haverá jeito, haverá vida, haverá ela

Ela que durante a foice diante da arma
Mostrou sua face para a foto, sem temer
Diante de sua alma haviam as crianças
Aquelas que hoje lutam por sua vida
Haverá paz, haverá um jeito, luta

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Futuro

Vou nesta rua escura
Nenhuma bandeira
O vermelho do sangue índio
Ficou na amargura
Junto sangue, sonho, tortura
A mesma de antes dura

Vou nesta rua a sua
Que de bandeira não tem nada
Um amarelo aguado tentando
Explicar o que não se explica
A mesma penúria, se expurga

Tocam os sinos nas janelas
Comidas estão nos lixos
Enquanto batem as baquetas
Onde estão aquelas facetas?

Acabou passando o ônibus
Com a mulher trabalhadeira
Enquanto batiam as panelas
Ela perdia o seu passe, vida, futuro
E seu enlace...

Flor

Não corro não tenho
A vontade que tinha,
D'um oi se não me vens

Não morro não durmo
Não paro de pensar
Queria poder tão perto amar

Que o andar de um louco
No tropeço de um qualquer
Se solta no riso, querendo dizer

O louco que se salva
Da dor que lhe corrói
O louco que se safa

Da flor que lhe constrói
Um cheiro acertado
Daquilo que lhe foi

domingo, 7 de agosto de 2016

Conversa

Uma brisa um ruído
A noite está densa
Posso?
Não, um louco somente
Ora triste um tempo feio
Feito uma luz artificial
Que seja
Assim converso e sou eu
Uma brisa sem ruído
Sou tão louco somente

Do outro lado quem acorda?
Qual cheiro?
Se da cama não conheço
Feche os olhos, durma
Sinto daqui o perfume
Navegante da nau
Digitando algo
O que vem qualquer qual sim
Sem julgamento
Ponto
Fim

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Humano miséria

De dentro do covil o que viria a ser
A esperança muda dos olhos calados?
O avanço dos que encontraram obstáculos
Que beleza há nisto? Que sabedoria mais insana
Estar gritando enquanto o jogo é de trapaças

Em qual periferia seus entes se encontrarão?
Cansados de cuspir o chão onde os carros correm
Os retrovisores estão a sorrir de sua marginalidade
Que beleza há nisto? Que sabedoria há de se perder
Enquanto se gritará por mais um tempo neste mundo

Na sala, na cozinha e nos quintais, o que há de entrar
Do que há de novo? A miséria será tratada novamente
Como uma mera condição do ser humano miséria
Lá dentro do covil penduraram o povo num quadro
E traçaram retas e curvas sobre suas faces, calcularam...

O exterior espera já sua parte desta matemática
O exterior dos pensamentos que não pensam 'povo'
Estarão a cabecear as bolas que forem chutadas no gol
Algumas baterão na trave, algumas pra escanteio
Quando outro mestre do gol estará entre nós?

Em qual periferia encontrarão os seus pares?
Serão contados como um número insólito
No jornal extraordinário do amanhã, mais um corpo
Alguém gritará da sacada: E o amor? No que o sol
Escaldante sobre a pele revelará apenas dor, suor, luta

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Dias cinzentos

Vamos assim pela rua a desmonte
Removendo as pedras que atirarem primeiro
Não importa o ciclo que está chegando
Não. Não conseguirão ir lá muito longe
São uns pássaros sem devaneios, não são poetas

Vamos assim pôr um fim neste triste,
Porém preciso tempo, lavar a alma neste sangue
Da guerra travada sem ao menos darmos início
São tão envoltos em sujeiras que não enxergam
Onde está a pá da limpeza... O desinfetante

Vamos assim pela rua a desmonte
Assistindo as pedras rolarem nos holofotes
Deixa estar que os pássaros caem sozinhos
Quando é hora de molhar o bico
Vêm encardidos pela chuva ácida que os corrói

Vê aquela flâmula? Foi dada aos porcos
 Aos inocentes que gritaram por paz
Mas a paz começou com uma guerra
Tão ofuscada de nossa visão, que num salto
Gritaram: Fora ladrão! Enquanto estavam com ele



quarta-feira, 4 de maio de 2016

Angústia

Gosto do meu cheiro de dormido
Destes sonhos contidos
Que durante a noite lhe revelam
Numa sala num filme
Do alto de um para quedas
Esfolando um beijo voraz
Corpo quente na mente
Frio fora do cobertor

Gosto desta sua cara de espanto
Fazendo graça onde tem a raiva
Que ao me ver congela
Que ao me ter desdenha

Com esta sua cara de bandida
Velejando mar adentro
O que vai no coração se aninha
Dentro logo o que ficou neste senão
Gosto deste seu jogo de inverdade
Se jogando num abismo
Se num beijo pudesse lhe prender
Entenderia toda esta agonia

quinta-feira, 21 de abril de 2016

De's'mocracia

Pega o pico
Testa o mico
Tucano sem bico
Que infesta a festa
Com ar de hiena
Não sabe, sabe
Como ri o riso
Do pobre desdenha
Não se atenha
Não é certo
Entrar assim, mas sim
Fique frio
Pega o pico
E testa o mico
Tucano sem bico

Pega a pia
Lava a cara
Nunca  limpa
Do lar não é
Recatado, frio
Beleza não tem
Mas um troféu
Cheio de lama
Sujo como si
Pega o pico
Testa o mico
Tucano sem bico
Que infesta a festa
Com arrogância
Se sabe, sabe

O mundo vê
Seu mico no pico
Não se atenha
Ria da vergonha
Tucano sem bico
Se afogue a si
Em sua própria
E (in)feliz dança
Sobre a lama
De Sá ao Marco
Sua testa não engana
São todos trama
Pega o pico
Testa o mico
Tucano sem bico
Que infesta a festa
Com sua intolerância
Desmocraciando

quarta-feira, 23 de março de 2016

Tempos sombrios

Instinto se coçando
Golpe tremulando
A falsa bandeira
Da justiça agora cega
Instinto de perda
Perda da jovem democracia
Que outrora brindava
Toda nossa luta
Dos tempos de luta

Tempos sombrios
Pela frente hão
Hão de engolir uma bala
Com o doce do sangue
Que outrora era doce,
Realmente
Levaram a democracia
Para um descanso...
E nós?

Instinto de perda
Uma triste realidade
Pobre voltando a ser
O que muitos não deixaram
Mas iludidos se acharam
No meio de quem os quer
Sete palmos abaixo de si

sexta-feira, 11 de março de 2016

Chuva

A ela um signo
Uma disputa por hora
Um valor remendado de agora
A ela um oi
Um senão de agora
Uma brisa, uma força a mais

A ela um signo
Um elogio pela voz
Um valor sem vez de complemento
Uma carícia, um brilho
Lá fora chove, mas
De sua voz emana o sol

A ela um signo
Uma vontade de tremer
Toda a persistência pela voz
Uma carícia, um infortúnio talvez
Lá fora, chove, mas o sol
Vem com as ondas de sua voz

domingo, 28 de fevereiro de 2016

E é noite

Noite densa, ante a luz
Os olhos mirando, mirante
De um abismo, um fim
Risos perfeitos vontade de lua
Luta, sem preocupação de fim

Noite densa, com sua luz
E o que poderá vir?
Senão um toque suave
Noite longa, vem
Não se perca no meu signo

Olhe a lua que longe vai
Sinta o cheiro que de mim sai
Sem outras loucuras
Apenas este desejo, que de longe
Mira uma alma boa... Louca

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Lula

Tem gente que some
Tem gente que escolhe
Uns esquivam da verdade
Outros são uns pobres covardes

Tem gente que velhinho encolhe
Tem gente que no estio dorme
Aqueles que correm pela forma
Outros que engordam pela boca

Numa mistura de cores gente nasce
Num dia cinza de luto outros dormem
Qual verdade absoluta guarda o Homem
Senão o sopro divino da desordem

Que numa terra lá muito distante
Quando nem um canto se ouvia
Da passarada em alvoroço daqui
Havia o grito de fome sem alarde

Uma gente, hoje odiada, ouviu o grito
Surdo, magro, em meio ao relinchar
Resolveu que gente que morre tem que ter dignidade
Trouxe a ira para a gente que fome não tem

Tem gente que não escolhe
Apenas aceita o trigo miserável que não tem
Tem gente que assim morria
Da fome, da desgraça que não lhe convém 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Eu esquecido

Ante um, segundo minuto louco
Fissurado no resultado mexido
A aura distante de sua nuance
Fera doce parto iludido com a doce
Perda do ser enxugado de minhas lágrimas

Ante um, segundo só minuto louco
Qual penúria mexida neste retardo
Da paz mediana que era fria, calculada
Quem poderia, medir? ferir? conter?
Fera doce alarde que cria sem razão
A perda do essencial, do amor pisado

Ante dois, qual dia poderia prever
O escárnio que me foi trazido
Se tudo que não queria era ver
O sol assim, tão perto demais
Para que meus olhos não fossem
Tão brutalmente queimados, eu esquecido...

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Ser

Corria desencadeado
Coração louco
As mãos na tela
Seus olhos no corpo
Sob elas o brilho
Em mim o desejo
Louco como tal
Ensejo de notas aos
Todos que querem
Feliz conhecer
Seu ego, flor daí
Fato outro que houve
Uma conquista simplória
Um dia uma noite
De onde é de onde foi?
Não, não sei
Mas aqui olhar, você

Nada me dói
Nada me corrói
Este querido, ser

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Só e ela

Ela está
Não está
Dormindo como sempre
Num lado
Distante como um lago
Aqui só tem mar
Mas que mal há

Gostar...
Virar, ver a lua e apontar
Estes desejos
Coisas que o poeta
Triste e insone larga

Que, se numa brisa há de achar
É esta palavra que teima ignorar
Amor, admiração, paciência

Qual outra beleza?
Há de querer nesta vida
Encontrar

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Costumaz

Costumava lhe ver distante
Costumaz e perdido, errante
A pincelada em sua pele
Os olhos deveras minguantes
Emprestados da lua
Raptados do tempo
Sem fúria, sem ais

Costumava lhe amar sempre
Hoje o sempre se tornou tempo
E a lua que brilha distante
Guardou seu coração neste tempo
No cofre vindo do sol
Trancou-se de mim
Com fúria, cheia de ais

E eu que costumava lhe dizer
Poesia em forma de sons
Tristeza em forma de sorriso

E você que costumava se esconder
Poesia em forma de dor
Felicidade feita do seu calor