quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Deitou-se no chão

Olhou-te com afinco e sumiu
Nos caminhos obtusos e claros
Nas inverdades onde cravas teu ser
Não suprimido do ódio clássico
Deitou-se no chão, deitou-se e dormiu...

As batidas no peito que urge amor
Estão cada vez mais distantes, mas a luz
A ofuscar os olhos, donos deste peito
Ficam variando sua felicidade, dor
Deitou-se no chão, aquietou-se e sumiu...

De onde emerge teu sorriso, flores nascem
Se noutro perfume meus sentidos patinam
No teu, ora incógnito, põe bandeira e fica
A desdenhar da realidade que consome
As palavras que outrora eram sinais

Que se pudesse ouvir os gritos
Que de minhas palavras escuto
Entenderias quais sentimentos imprimo
Na face de um entremeio de linhas
Tortas linhas, imagens imperfeitas
De um amor imerso em ar rarefeito





terça-feira, 24 de novembro de 2015

Ao cais

Se com tua altivez pudesse retratar
Trazer este incêndio gradual que queimas
Toda tua beleza no espelho
Tristes verdades que cospe em meus olhos...
...secos olhos sem a chuva de tua vida

Suas vestes internas trazidas por um canto
Miúdas palavras balbuciadas sem ritmo
Com a clareza dos deuses, com a leveza...
De um tapa na cara que lhe beija!
Seca a água que lhe molha o corpo

Antes de tua investida fria, sem coração
Hei de entender que assim já não posso
Ver-te como tal, jarro de luz, besteira
Que quando me envenenas, sorrio
Vendo a lua que te deixas arfante

E, se deste lado eu insisto em ser-te errante
É que não conheces toda minha poesia
Por que se vejo aquilo que a paz apraz
Não seria justo deixar a rua e seguir pro cais?
Partir sem adeus dizer, morrer sem amor te ser?

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Descoberta

Veio pálida como o orvalho
Um molde cru nas mãos
Uma lata velha querendo descoberta
Uma pétala escondida

Veio em minhas mãos
A flor que outrora quis
Sonhei, quais cheiros oculta?
Sob olhos desafiadores

Veio pálida como o orvalho
A pétala desejada, plenamente branca
Com suas cores diversas
Ventando meus olhos

Veio sem devaneios, despojada
De suas palavras de repulsa
Olhos nos olhos, corpo
Devaneios que outrora eram sonho

domingo, 15 de novembro de 2015

De flor em flor

De flor em flor sussurrando ao mel
O que a água não sabia, é que morria
Ante a ferocidade de suas mãos
De flor em flor ela deixava sua marca
Atrocidade desconhecida, desconexa
Mundo estranho, de flor em flor
Ela apagava sua memória feliz, sopro
E ele esquecia assim que a amava
Ela, o pedestal de um amor platônico
E a lama que cobria seu coração
A água lavava, e de flor em flor
Ele a observava, feliz com seu sorriso

De flor em flor ele a seguia...
Seguia para ser um idiota feliz
Feliz por ser seu sonho mais distante

Entre um sopro e um cuspe, ela o beijava
No átrio ela apenas pedia aos deuses
Livrai me deste idiota, mas ele seguia
Que de flor em flor ele a achava, ofegante
Porém triste entre as construções, olhos
Que a fitavam, não como uma flor
Talvez perdida, talvez borboleta sem asas
Mas eu a esperava, introspectivo num sonho
Temendo por sua felicidade, que buscava
De flor em flor, com ódio e com amor
Estava ali para tudo e para nada neste fim
Que de flor em flor, eu lhe achava, amava...

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O poste

O poste parado tudo contempla
O pedestre desajeitado
A bicicleta recostada
O carro que vem vem e 'plac'
Sirene, sirene, sirene

O poste continua parado, contemplando
Imprudência, imprudência
Pensava ele, absorto em seu concreto
Um arranhão muito indigesto
Silêncio, silêncio, silêncio

O poste na rua mira tudo
O cachorro que passa e lhe banha
O ser gentil que de fome reclama
O carro que com presa lhe porra
Desastre, desastre, desastre

O poste também não reclama
Em seu topo um pássaro canta
Seu alento na noite sem cama
Dorme em pé sem chance de fama
Isola, isola, isola

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Andorinha 2

Se eu pudesse lhe alcançar, andorinha
No remanso em que percorre, domina
Pousaria meus olhos em suas asas
Surfaria no vento suas passadas
No ritmo que dá ao céu que povoa

Se eu pudesse lhe alcançar, andorinha
Nas paragens que contempla a vida
Seria o lago que saciaria sua sede
No descanso das asas cansadas
No pensamento plano do outro vôo

Se pudesse também ser andorinha
Voaria distante pra colina
Tentando entrar em ressonância
Com a batida dos ventos

Qual som escuta quando voa?
Voaria distante pra colina
Tentando entrar em ressonância
Com o som que reflete a alma

Andorinha

Se eu pudesse alcançar esta andorinha
Que vive voando pela minha varanda
Escondida quieta num remanso
Com olhos de águia, caçando palavras
Suas palavras, escassas...

Se eu pudesse alcançar esta andorinha
Que vive pousando pelo caminho
Escondido dos meus olhos, perdido
Caminho escasso, amor calado
Seu peito, avassalador...

Se eu pudesse ser uma andorinha
Voaria este caminho que caminha
Se eu pudesse ser uma andorinha
Me esconderia na maior montanha

Onde o ar não me faltaria
Onde do mar me abdicaria
Onde com seus olhos eu sonharia
E onde feliz eu morreria, feliz...

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Luta

Que a intensidade daquilo que sinto
Seja deixado à sua porta pela manhã
Nas asas de uma colorida borboleta
No pingar suave das gotas de chuva

Cativando seu desviado coração
Emanando sem perceber, luz
Que isto seja grande enquanto vivo
Que seja tudo o que preciso

Que sem você não sei viver
Tento até não esmorecer
Ante esta ideia de desistir

Tentar sem ver a cor da luta
Quando vencida com palavras
Quando contigo sendo amadas

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Quando

Quando lê, transporta
Quando vê, se importa?
Quando e se, há volta?
Há sim a explosão

Quando crê, certo está
Quando sê, volta ao início?
Quando e tê, caminhos
Há sim a emoção

Por vezes estar
Onde quer que não esteja
Onde for a paz destreza

Por alguns segundos paz
Sem o brilho ensolarado
Desta chuva de raiva