Desejos

Bora marcar um desencontro

Dentre os sussurros da noite

Quando a lua alta e viva

A nós, permitir um olhar roubado

Por entre uns minutos contados...

Talvez a boca se mexa com palavras

Alguns sons inaudíveis que se explicam

Pelo calor do momento trágico, para o sol

Já que a lua é quem ali brilha

Junto de ti, de mim

Nesse desencontro ao acaso

De um encontro pervertido, desprovido

Do pudor da alma alheia

Só nós ali, na dança, som do mar, bocas silenciosas

Respira...

Bora nesse desencontro, por que a vida

Ela nos ensina o caminho certo

E o que é que é certo? O errado todo, somos nós

Deste lado respirando, nos olhando, tensos

Perdidos entre aquilo que um dia se traduziu por

Desejos...

Pelas ruas

Quem sou eu

Quando teus sonhos são uma ilusão distante?

Quando teu frio me machuca

Tuas roupas ralas me estremece

Quem sou eu diante dessa crueldade

Que tenho os olhos cerrados

Pela ignorância velada

Dos que te pisam e maltratam

Preciso dizer-te como reagir

Não, não há como

Talvez teus ouvidos já não operem

Os sons que jorram das ruas

Dos que te veem invisíveis

Não, não há talvez um meio

Enquanto estás no fim

No fim do brio que um dia tivestes

Quem sou eu diante desse descaso

Que não tenho mãos para estender

Nem pés para ir

Muito menos voz dentre os sussurros

Dos que deveriam fazer calor

E que de ti desdenham

Esse sou eu que com palavras talvez

Leve uma luz para quem tem poder

Entre redes

Realidade por entre cabos

De onde teu cheiro

Me cheira uma incógnita

Dos olhos que somem quando

Teu olho máquina falha

Num dia chuvoso a rede balança

Com o vento e pelos ventos

Que falham o sinal

Quando volta parece um rabisco

De uma tela maltratada

Pelo mais hábil pintor

Quando enfim há nitidez

Sua voz me some entre os botões

Que não me ajudam a aumentar-te

O som tremido de suas vocais

É entre esse meio que entremeio

O papo que a distância impõe

Realidade por entre cabos silenciosos

Roteando o encanto de tanto

Que longe estás 

De onde teu cheiro míngua

E teu gosto é tão virtual

Quanto minha habilidade de amar...