terça-feira, 27 de novembro de 2012

Anda

Anda anda, tropeça em pedra
Calo, me calo, é calo nos pés
Anda, para, descança, ao viés
Fica, deita, acalme-se... esmera
Este amor, furor árduo do silêncio

Anda, cala, calo, caio
É calo nos pés, mãos
Pesada mão, sobre a areia
Anda! Mas fica... Não, fica!
Pesado ar, assim desmaio

Anda, tropeça e calça
Os sapatos brilhantes e fuja
Ainda que a noite não chega
Pois sob o sol vem o calo
Dos cabelos esbranquiçados

Anda, tropeça e voa!
Antes que venham os furacões
Calo, me calo, é calo no ser
Antes que morra por ver
O silêncio deste amanhacer

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ao seu redor

Se meus olhos pudessem falar
Falariam o que minha boca vê
Se meus olhos pudessem sentir
Falariam o que minha boca viu
Olhos mornos, boca fria, sinto

Se meus olhos falassem com você
Minha boca terminaria por lhe ver
Assim misturada à lua, na luta
Sob este sol escaldante, na busca
Do que não se vê, apenas se sente

Se meus olhos pudessem lhe ver
Deixariam minha boca finalizar
O sentido que não se toca, mas se sente
O sentido que não se aplica, mas que flui
Como uma planta que precisa de água e de sol

Se meus olhos pudessem falar
Falariam como é belo seu olhar
Que mesmo sem falar, sem compor
Traduz aquilo que sinto ao lhe ver ressoar
O canto mudo, barulho surdo
Aquilo que está repleto ao seu redor

Sob o sol

Sob o sol, sob a lua, o jogo
O caso, a beira, sem eira
Só pele, corpo, descaso
Sob o sol, de qualquer maneira

Sob o sol, sua luz, o jogo
Os olhos evasivos, luar
Lual sem o violão
Mas o jogo, ditado em dois

As raquetes ressoando o oco
A bola maltratada, seduzida
Sob o sol, água de côco, gelada

E as raquetes param tarde,
Sol a pino, cansaço... na hora
Você passou, bela, queimada, seduzida...



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Consumindo palavras

Palavras agridem, rosnam sob a lua
Traduzem sentimentos, confundem
Trazem o sabor do fel e queimam
Sou consumido por palavras

As palavras podem amar, ser
Somam-se ao sujo e limpam
Trazem clareza e paz
Sou consumido por palavras

Confusas palavras na mente
Músicas que traduzem atos
São letras interligadas
Quando triste, quando feliz
Sou consumido por palavras

Mero meio midiático
Sem som, sem vez, sem tez
Sou consumido por elas
Minhas entremeadas palavras

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A árvore do segredo


Num instante me esqueci de tudo
Toda uma vida que construímos
Deixamos passar cada detalhe em branco
Fingindo ser importante a ruína
Procuramos por algo cada vez mais puro
Deixando de lado o essencial
Que quando vem os ventos nos derrubam
E traz ao mundo ar mais jovial
Por que vamos às casas extremas
Aqui tem calor e cobertas, é só dormir
Por que deixamos sempre o frio doer
Quando por muito abrimos os olhos, é hora de sair
Quando deixar de ver o nada
Deixe também de ver a rua
Por traz daquela montanha lá no alto
Há uma árvore com o segredo da lua
Tudo cresce e volta a regenerar
O coração, a vida e a razão
Tudo cresce e volta a escolher
Que vida, que luz, que amor?
A árvore carrega o segredo
Minha juventude vai ao limite e durmo
Cai, escorrega e vai fundo
Depende do caso em xeque
Depende de quem possui meu coração

2007

Soneto de vingança


Temos fome e sede de saber
Temos de lado a paz.
A guerra vem estremecer
O que outrora era o seu lar

Temos fome e sede de fazer
Temos de lado a força.
O astro rei esfria o amanhecer
O que até outrora era nossa dança

Se hoje penso no descaso seu
É que não mais acho sua essência
O que ontem era desespero em ser

Hoje é somente um vazio
Uma luta insólita por vingança
Em trazer à tona o passado... e esquecer...

2006

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Decisões

Nos dias menos favoráveis
As aves simplesmente descansam
Antes da tragédia
Esperam os ventos soprarem
Tomam suas decisões
Amontoam-se nas árvores
Dormem

Nos dias menos favoráveis
As aves às vezes voam
Arriscam suas asas e planam
Depois de tomada a decisão
Machucam-se, estilhaçam-se
Não há mais tempo
Não olham para trás

Nestes dias desfavoráveis
Há no ar um misto de dor
De desrespeito para consigo
De despreparo para viver
Estas decisões foram tomadas
Nestes dias não adianta soluçar
Tomemos o vento!

Em qual rota teremos decisões
Que favoreçam apenas a felicidade
Que não machuque sem querer
Que não trucide a paz
Nestes dias não muito condizentes
Queria tomar-lhe a mão
E estar na segurança do lar