Intento

Leio com os olhos

Como com a alma

Devoro com a língua

Beijo com os pés

Te amo com a força

Que vem desse viés

De ouvir rumores

De sua aspersão

De sussurro

Gemidos

Invioláveis sentidos

De quando ouvi

De seus gritos, um urdo

Numa única direção

Calei, seus olhos

Falaram

Intensos, raros

Da dama na cama

Misturando ares

Obstruindo o irreal

Fazendo da noite urro

Silêncio

Quase isso

Enquanto o suor

Da testa, do corpo e da alma

Batalha

Com nossa vontade

De ter o ato

Novamente

Intacto... Do tempo...

Alento... Intento...

Arco íris

Num arco íris sobre a areia

Perfeição

Ao fundo uma imensidão verde

No céu o sol

Coroando sua ebulição

De fina pele, sentimentos

Num arco íris num paraíso

Umas peças de roupas

Que cobrem sua fluidez

O olhar por baixo da lente

Mira gente que retrata

Toda sua exatidão

Que com números batalha

E numa praia qualquer se esbalda

Queimando corpo e emoção

Trabalha mente e paz

Como nenhuma outra

Faz... Perfeição...

Sou

Enquanto os cães alçam meu calcanhar contra o vento

Meus olhos ainda lhe são alento

Você não vê meu coração

Todo moído pelas relações

Por que fico escondido com ele

E tudo que lhe mostro são meus olhos

Minha alma e meu amor

Enquanto esses cães não me largam

Meus olhos eu desvio de encontro aos seus

Eu me apoiando nessa sua teimosia de mim

Por que quando caio, sua mão está lá

Esperando a minha

Enquanto o vento me ajuda

A do fundo me levantar

Bagunçando meus cabelos

Me fazendo lembrar que vivo estou

E contigo eu sou

Num dia enfim parei a conversar com eles

Os cães pararam em minha frente

Meu corpo todo rasgado

Alma ainda ensopada do suor que carreguei

Nenhum latido eu ouvi

Em volta de repente o vazio

E percebi de quem eu corria

Era de mim

Nada entendi, mas refleti

Pude encontrar palavras que precisei

E aqui estou, contigo sou...

Trincheira

Quem está contigo

Na trincheira

Dia a dia

Nessa loucura nossa

De cada dia

Ouvindo, sentindo, temendo

Tremendo golpe esse da vida

Que nos coloca diante de uns

E nos some com os mesmos de antes

Quem no fim está ali?

Mesmo que pra dizer

Bom dia?

Qual dia é bom?

Qualquer um que seja

Onde me sinto

Bem,

Mas deixa isso

Pra um outro dia...

Sentido

Sobram dias em que penso

Por onde vão

A força

O brio...

Faltam dias com você

Que fica aí

Sentindo

Indo

Enquanto eu vou num sentido

Qual deles me perco

Vejo

Sobram dias os quais

Sentir

A força, o brio

Faltam dias com uns dias

Cinzas

De onde me reconstruo

De onde sou um

Sentindo... Sentido...

Esperança

Esperança é ser artista

Virar a página e viver

Ainda que esse ar

Resista

De ver o público aflito

Feliz

Triste

Esperando nos voz

Sua esperança

Em ser

Vista!

Esperança é ser artista

Virar o tempo

Ser alento

Enquanto a vida

Ahhh a vida

A vida segue

Vira rua

Dobra muro

Mata gente

Enquanto a vida artista

Segue

Ausente de você que segue

Ausente

Quando tudo falta

Não falta esperança

Num artista

Se vista, viva

Esperança...

Histeria

Num debate, cresço

Me mostro, aconteço

Deixo escapar minha luta

Escuta!

Essa voz que tenta

Alterar

E alertar sua pré fúria

Não me espante

Tente

Entender o que prego

Sem ego

O seu

Que de tanto explodir

Me eclodiu

Nessa histeria

Calma...

Não sou uma qualquer por aí

Tentando lhe dizer

Acorda!

Quer que lhe bata?

Basta!

Mas sua cabeça

Contra a parede ficaria boa

Se você não

Entendesse...

Poesia

Poesia não faz sucesso hoje em dia

Talvez um dia

Ela volte a tocar algum ser

E ter

Seu lugar entre

Os corações amargos

Tristes fins

Que a jogaram no esquecimento

Mas tento

Poesia não tem seu lugar

No dia a dia

Hoje é tudo muito fulgaz

Com sentidos de ter

A impressão amarga

De bater

Pontas de facas

Mas o que a gente faz?

Escreve escreve dita

Dia a dia a poesia resiste

Frente a esse mundo incapaz

De se sentir amado

Carregando um fardo pesado

De um farto passado

Como se uma

Flor

De repente abrisse caminho

Para, novamente, se amar

Corpo

Copo, corpo da água

Fluido como o ar

Sem estrutura, mole

Como o meu

Coração

Quando você acata a água

Sua sede

Vede

Vai embora, em profusão

Corpo, no copo da alma

Rígido, intenso...

Minha estrutura procura

O coração entre paixão

Quando você some

Sonho junto

Sumo

Em copo, tomo

Sua alma e seu sangue

Misturado com o seu

Olhar, me tange, tinje 

Todo meu eu que segue

Seu corpo em movimento

Onde

Me encontro lento

Movimento

Se ando encontro

O morro e subo

Por entre minhas palavras

Palhaçadas

Que quando estou lá

Em cima, olho

Todo o resto

Que falta

Ao movimento fazer

O ser, crer, alvorecer

Se ando, há um desencontro

Que frente a esse tudo 

Parece um nada

De cima, me olham

Quase que um resto

Daquilo que falta

Me move

Movimento

Alheio ao tempo

O vento

Daqui de cima, encima

Seu cheiro denso

Incenso doce

Movimentos que lembro

De suas formas, forma

Esse relento

Ser um

"Ser um

Qual um pra você

Onde mais ir

Vir

Que o coração

Exala

A alma que aqui

Fica

Pensando longe

Nesses dias afins

Ser um

Quando raro vejo

Seus olhos

Seu anseio

Não fique triste

Dedo em riste

E me olhe!

Como um que

Não quer lhe ver

Ali

Distante assim

Um amor pululante

Que de si

É radiante"

Desejos

Bora marcar um desencontro

Dentre os sussurros da noite

Quando a lua alta e viva

A nós, permitir um olhar roubado

Por entre uns minutos contados...

Talvez a boca se mexa com palavras

Alguns sons inaudíveis que se explicam

Pelo calor do momento trágico, para o sol

Já que a lua é quem ali brilha

Junto de ti, de mim

Nesse desencontro ao acaso

De um encontro pervertido, desprovido

Do pudor da alma alheia

Só nós ali, na dança, som do mar, bocas silenciosas

Respira...

Bora nesse desencontro, por que a vida

Ela nos ensina o caminho certo

E o que é que é certo? O errado todo, somos nós

Deste lado respirando, nos olhando, tensos

Perdidos entre aquilo que um dia se traduziu por

Desejos...

Pelas ruas

Quem sou eu

Quando teus sonhos são uma ilusão distante?

Quando teu frio me machuca

Tuas roupas ralas me estremece

Quem sou eu diante dessa crueldade

Que tenho os olhos cerrados

Pela ignorância velada

Dos que te pisam e maltratam

Preciso dizer-te como reagir

Não, não há como

Talvez teus ouvidos já não operem

Os sons que jorram das ruas

Dos que te veem invisíveis

Não, não há talvez um meio

Enquanto estás no fim

No fim do brio que um dia tivestes

Quem sou eu diante desse descaso

Que não tenho mãos para estender

Nem pés para ir

Muito menos voz dentre os sussurros

Dos que deveriam fazer calor

E que de ti desdenham

Esse sou eu que com palavras talvez

Leve uma luz para quem tem poder

Entre redes

Realidade por entre cabos

De onde teu cheiro

Me cheira uma incógnita

Dos olhos que somem quando

Teu olho máquina falha

Num dia chuvoso a rede balança

Com o vento e pelos ventos

Que falham o sinal

Quando volta parece um rabisco

De uma tela maltratada

Pelo mais hábil pintor

Quando enfim há nitidez

Sua voz me some entre os botões

Que não me ajudam a aumentar-te

O som tremido de suas vocais

É entre esse meio que entremeio

O papo que a distância impõe

Realidade por entre cabos silenciosos

Roteando o encanto de tanto

Que longe estás 

De onde teu cheiro míngua

E teu gosto é tão virtual

Quanto minha habilidade de amar...

Voz

Numa noite ela vem

Leve, suave...

Qual timbre? Emana

Num trisco

De luz, ao fundo, remete

Qualquer coisa que

Um sonho

Traz

Numa noite ela chega

De mansinho

Assim meio que

Medindo

Qualquer palavra

De luz

De um sonho

Tão distante assim?

Uma voz

Meio que pedindo

Siga!

Seu caminho é seu

Só perceba...

Esse breu que há

Entre viver e ser

Vivido...

Sua voz...

O sol

Ouvi um som

Estridente tom

Do sorriso seu

Tão meu

Tão distante

Em meio ao breu

Mas que de tão

Radiante

Amanheceu

Abrindo alas

Para o sol

Que contigo aprendeu

Como num piscar

Brilhar...

Se

Quando danço a vida baila

Nas lembranças que de ti paira

De um dia quente, louco

De um sonho enterrado, morno

Que quando danço, a vida para

Nessas lembranças quase rasas

De um momento ausente

Me matando, te revivendo

Não é sobre amor que falo

Mas essa teimosia de amar

Sem o relógio e o tempo

Algo para nos fazer enfim parar

Como se a alma que queima em brasa

Fosse tudo que nos faz sonhar

Sob a luz da lua

Ver

Sentir o que houve

Ser

Alguém que foi

Livre

Sentir seus pés

Sobre a terra

Sob a luz

Da grande lua

Eu não estava ali

Mas estava

Tenso

Sob a terra

Com os olhos

Pra fora

Vendo

Tudo que ali

Me consumiu

Mas seus olhos

Penetrantes em mim

Fizeram cama

Dormi...

Chegada

Não sou de chegar

Sou de partir

Corações

Amizades

Emoções

Reter tudo num verso

E deixar o sol

Queimar

Como arde meu coração

Com a chegada ausente

De uma menina a quebra mar

Ondulando a água

Surfando em palavras

Com seu distinto olhar

Ahhh esse amar

Essa chegada...

Quando parte?

Quando teremos mais chegadas

Sem partidas

De coração

De amor

Amizade

Verdades...

Deixar a lua brilhar

Só ela lá, eu, sua chegada

Breu...

Último ato

Um tolo

Por aí

Quem carece

De carência?

Um tolo

Me senti

Com sua ausência

Por que

Enquanto presença

Vivi

Logo me perdi

Fui pro mundo

Morri

Chuva veio

Chuva veio

Resfriar uns anseios

Daquilo que somos

Impuros feitos

Do sexo agudo

Da terra que semeio

Do seu corpo que sonho

Impuros

Chuva veio

Sorrateiramente

E ouvindo seu pingar

Na calha da casa quieta

Me esquento

Debaixo do seu gritar!

Gemendo em meus ouvidos

Aguçando meus sentidos

Chuva veio

Molhando minha alma

Qual banho de manjericão

Renovando minha energia

Que quando penso no dia

Que lhe conheci, quis ser

Aquilo tudo que você

Sonha ter

Flores

Flores recebi

De uma flor

Que voava por aí

Pra se permitir

Ser a melhor de si

Flores recebi

Rosas

Inesperadamente me vi

Com ela

Ali

Naquele cantinho

Como quem busca

Um pergaminho

De onde tenho a direção

Do seu imenso

Sorriso...

Pássaro

Ahhh como eu queria

Ser um passarinho e pousar

Perto do seu cheiro

Até você me carinhar

Dali assim ficar

Em seus ombros

Como um totem

Um ser pequeno precisando

De alguém pra cuidar

Quando tivesse um tempo

Viria me acalentar

Com seu sorriso mágico

Com sua voz agradar

Esse pássaro em migração

Um louco

A bater asas

Procurando redenção

Olhar de luz

Preciso de ti

Qual um banho

Lavando-me a alma

O corpo a mente

Livrando-me da dúvida

Da inquietude desse ser

Preciso de ti

Nessa luta contra tudo

Fazendo minha alma ser toda

Sua

Com sua energia qual esse banho

De verdes que refazem a mente

Daquilo que o corpo perdeu

Onde a mente se espremeu

Nesse fim de tudo que está aí

Preciso de ti

E preciso ainda mais dos beijos teus

Tua energia... Teu olhar de luz

Promessa

Te prometi não ser

Mas sou

O errante da poesia

Toda essa alegria

Triste

Te prometi esquecer

Mas lembrei

De toda essa energia

Toda luz

Feliz

Te prometi rever

Conceitos

Esses sim

De onde estiver

Prometo

Ser amor...

Devaneios

Largo-a do tanque

Da louça da pia

Do dia

Arrasto ela pra um canto

Secreto canto no seu ouvido

Percorro seu corpo, mordo

Cada pedaço

De repente ela

Grita

Balbucia palavras

Me agarra

O fôlego acaba

O calor me desfaz

Ela me atrai

Pra si

Eu me expulso de mim

Naquele canto secreto

E em segredo ela ri

Seu gemido em meus ouvidos

Sua mão em meu corpo

Sua boca buscando a minha

Seu canto secreto em minha alma

Nosso devaneio de calma

Mente sã

Sou amor enquanto sou loucura

Minha mente sã não me deixa livre

Por que quando estou aflito

Ela vem e me alivia

Me faz lembrar o quanto de sua ternura

Preciso eu ainda encontrar 

Para que eu escute ao longe

Sua voz

Chamando-me para o seu enlace

E antes que toda terra caia sobre nós

Antes que o céu desabe

Sua mão, eu sei, me segura

Sou amor enquanto sou loucura

Doce fel por uma rua escura

Sigo sua luz ao longe

Corro grito vejo escuto

Sons dos seus pés descalços

Pisando firme por esse chão

Nua

Sou amor enquanto sou loucura

Enquanto meu coração arder como o mar

Sob o sol

Onde seus pés pisam

Sigo seu rastro, sua luz

Por que sou amor

Enquanto também

Louco sou...

Cheiros

Estou enjoado do meu cheiro

Preciso do seu

Para formar coisa nova

Novos "eus"

Como esse vento que sopra

Trazer vida nova

Atrasados chegamos

Adiantados seguimos

Preciso do seu cheiro

Para ser novo eu

Misturados nesse enlace

Que qualquer coisa que passe

Me parece ser perfume seu...

Meu vício

Meu vício de palavras

De respostas

Há um vício de amor?

Se existe é você

Meu vício de você

De poucos momentos

Meu vício de ausência

Vício de sentir seu cheiro

O tempero do que me assombra

Nesses sonhos

Loucos viciosos sonhos

Sobrenaturais

Meu ciclo de poesias

Enquanto a borboleta bate asas

Um efeito do que tomo

Me transforma nesse vício de você

De onde quer que me encontre

Nessas palavras e conversas

Viciantes emoções, enfim

Louco

Sou um louco endiabrado

Correndo sob a chuva intensa,

Abrindo uma fenda...

Que se abre enquanto sonho

Arrancar-lhe os pedaços

De sua carne quente

Enquanto miro seu olhar

Todo derretido

Destemido em palavras

Traduzidas entre alguns sussurros

Sou uma canção que de noite

Diante do ranger da cama

Entrega a energia que usa

Para me abater

Soando notas de calor

Tocando blues enquanto grita

Carne viva que aviva

Um louco torpe sonhador

Que enquanto retoma sua postura

Nos seus olhos percebe amor

Redoma

Do céu eu vi

Passeando lindos olhos

Por aí

Beliscando a areia do mar

Como se aquilo fosse um altar

Da nuvem que pousei

Descobri

Ousei descobrir você

Como se um anjo me dissesse

Desce!

Da noite que eu lhe dei

Um pouco de mim

Eu vi

O feitiço dos seus olhos

Todo em mim

E quando de repente o coração

Quis fugir, caí

De volta em sua redoma

Saciado em suas palavras

Preso em seu encanto

Leveza

Leve vento que, leve como pluma, me leva

Até um desconhecido sorriso

Escondido

Entre a carne e um olhar

Distante mar

Que circunda essas areias

Por onde sigo

Louco de mim

Corações "partidos?" que ali

Entre o leve do mais suave vento

E a densa tempestade

Se criam

Se olham do alto

Miram

Qualquer lugar

Tentador pulsar

Da leveza de amar

Nuances

O que são

Teus dias

Tuas doses de alegria

Chão dos teus pés

Quais medos

Carregas

O que são

Esses teus dias

Junto do que escrevo

Teus olhos ali

Tão lua

Quanto sol

O que tens

De mistério

Tuas nuances me trouxeram

Tua alma com medo

Eu idem assim

Quantos ais em mim

Flor

Tinha uma flor

No meio

Do caminho

Turvo

Instinto criou

O rio que

Mansamente a banhava

Tinha uma flor ali

Tem

Seu perfume oculto

Raio de

Luz

Instinto que ficou

Luz

Luar

Ali a flor

No meio de tudo

Todos

No meio daquele

Instinto

Silêncio...

Há de florir...

Alma

Alma que renasce

Traz enlace

De terra fértil

De ideias quentes

Das que o coração

Acende de repente

Alma que num enlace

Traz paixão

Aquece o corpo

Faz do horto

Plantação

A alma que nos lê

Nos traz vida

O amor em sua forma

Mais

Tão mais pura

Que o próprio

Ser

É razão de vida

Suave como a noite

Atrevido como o dia

Querido como a alma...

Doce luta

Janela fechada

Peito vazio, de dor

Alguém lhe mira

Enquanto você pira

Esfria

A mente, o corpo, o sopro

Doce luta que tem

Como permeio o cheiro

Almíscar no corpo

Todo

Peito cheio, amor celebrado

Entre as nuances

Da vida

Quarto silencioso

Somente o miado

Do vento do gato

A mente em outra estação

O corpo cheirando ilusão

E eu desejando um pedaço

Dessa luz, sem razão...