segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Lugares

Uma dor é como um pássaro
Nunca se sabe de onde vem
Pra onde vai
Mas suas asas batem
Empurram sutilmente o ar
Às vezes pousa em nós
E dormentes não expulsamos
Seu canto mais triste

A dor é um pássaro
Vem às vezes de onde quer
E nos leva a lugares desconhecidos
Abismos onde contemplamos
Uma dor somente nossa
Um ardor no coração
Bate as asas empurra o ar

Tome fôlego e fuja
Como um pássaro bate asas
Para o céu sempre mais alto
A dor é como um abismo
Quanto mais bater as asas
Mais distante dela ficará

A dor vem num fio fino
Para cortar cante
Errado certo meio talvez
Como um pássaro, desafine também
Não se importe com o ar
Bata as asas, deixe para trás...
O ar rarefeito do abismo
Lugares que não fazem efeito

Vem

Suave como a flor
Entretida em sua dor
Temendo ser amada
Dona de um feliz odor
Digo digo vem!

Remanso como o seu
Um descanso que ninguém
Espera... Reitera
Daqui digo apenas
Vem!

Feche os olhos, imagine
Na parede alguns deslizes
Fácil conseguir
Alguns carinhos para vir
Diga diga vem!

Talvez da noite nada traga
Talvez assim um dia pense
Diga vem! Mas fique bem
Feche os olhos, imagine
Até que o bem se justifique

Mar

Não sei como é
Quando ensinará
Quando se vê poeta
O rio que eu nem imaginava
Por aqui percorreu

De longe o pássaro se ouve
Quando o corpo agitado
Consumido pelo som
Misturado do mar e passarinho
Quer de você um talvez
Lucidez

Na areia da praia o sol
Sob a sombra lembrança
Um dia de cada vez
Para viver uma esperança
Que seja pelo menos doce
Que chegue nas horas certas
Abrace com o perdão cego
Controle o beijo com o fogo

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Dias

De frente pra montanha
Céu escuro, nuvens chuva
De frente pra montanha
Na rua na chuva na mistura
No pedaço do mundo
Onde caminha?
Em que põe os olhos

Ah como sinto sua entranha
Céu limpo doce música
De frente com a mulher
Menina de olhos fechados
Longos minutos deixando o sol
Molhar sua mente
Deitar sua semente

Ah como me calo
Com minhas ideias loucas
Jeito de pousar na grama
Pisar tranquilo seu terreno
De frente pra montanha ouvir
O delírio dos seus dias
Querer assim que seja ameno


segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Amanhecer

Frio, nebuloso
Sem sentido
Uma mistura
Sobra de tudo
Desentendido
Uma chuva
Uma martelada
Quando ensolará
De novo

Frio, cauteloso
Quando o mar
Não recebe
O rio, o curso
Nada sobre tudo
Peixe a boiar
Entendido do que
Uma chuva causa
Durante a madrugada
Quando o dia amanhece?
Novo

sábado, 21 de janeiro de 2017

Pássaro

De longe o pássaro
Observou sua bebida
O rio, que caudalosamente
Ia para o mar
De longe o pássaro ouviu
Seu bater de asas
Viu seu brilho e voou
Foi em direção da sombra
Sob a chuva que forte caía

De longe o pássaro
Observava sua beleza
Vestida com um perfume
Perfeito como a natureza
De longe o pássaro
Sentia sede de sentir o vinho
O gosto da seiva
Em direção à sombra
Bateu asas e voou

De perto o pássaro
Viu a passarinha e cantou
O mais alto que conseguiu
Cantou cantou e assim ficou
Preso no seu canto
Frisando seu encanto
Na árvore ele pousou
Acalmou as asas e dormiu
Em meio à chuva ele acalmou

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Teoria

Qual o último pensamento
Na hora do impacto
Onde miram os olhos
Desesperados pelo fim

Qual a última cena
Que na cabeça emerge
Ante a iminente morte
Fez certo?

Quem nesta hora sorri
Dever cumprido
Elo enfim rompido

O que nesta hora acontece
Quando o corpo encolhido
Na hora do impacto, padece?

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Menina

A menina no  meio da  rua
Saia prendada
Corpo em alinho
Jeito sereno
Olhos de fada

Menina do meio do nada
Queria seu beijo
Seu corpo e saliva
De alma e trejeito
Os  olhos também

Menina que passa
Por aí vem aqui
Com o corpo agitado
Alma clara um beijo
Na boca o meu bem

Chuva

Na cama me engana
Assanha este dia
Nem o sol a levanta
Deixa chover na mente
Não levante, fixe-se
Nestes olhos que imaginam
Suave como fica
Sob os lençóis

Na cama esperando
Se enche do perfume
Que de noite no sonho
Emprestou à lua
Não espere, corra
Tenha a calma necessária
Suave como tens
Os olhos agradáveis

Canta reclama encanta
Quando se vê pega os olhos
Que a migrar pelo espaço
Pousam num canto qualquer
As vozes variadas
O tempo atribulado
Deita dorme descansa
Que a chuva por você desce

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Grãos

É... um algo no nevoeiro
Vindo da chuva que recai sobre a montanha
De onde entre árvores vens
É um algo neste nevoeiro
Na paulada que vem de todo lado
Peito acelera, corpo palpita
E nada se explica, na rua a menina

É... um revoltoso de passagem
Que de tantas idas e partidas, ficou
Qual curiosidade se assemelha
Que está escondida na poeira
Tal qual somos nós, uns grãos
Misturados nesta tábua da vida
O vento sopra e nos espalha 

Foi... algo que poderia ter sido
E foi, resultado de uma imensa desilusão
Os ventos deram meia volta
Os grãos foram novamente postos à tabua
Esperando nova revolta
Escancarando silenciosamente a vida
Esperança sempre tivemos de sobra

São Mateus

O choque chega
Nas famílias instaladas
Nem um canto lhe oferecem
Estão sendo assim largadas
Crianças, cães e outros ladrões
De suas casas enxotadas
Sem chance sem chance

O peso da bala fez-se ouvir
A senhora idosa sob a lua enfim
Seu novo lar está por vir
Na ponte foi lançada
Em meio à lama, caos
O cassetete foi lançado

Choro correria volver!
Gritaram logo o caminho certo
A injustiça da justiça
Cega como a luz da ganância
Nada fez nada quis saber
Criança na rua pra valer

O poder escroto do alheio
Acertou famílias em cheio
Sem norte desnorteadas
Alguns presos pra boa moral
Outros largados em algum canal
Da mídia, do porre, da sociedade
Doente...

Seu caminho

Tentando andar pela trilha, mas desvios
Caminho tortuoso e cheio de subidas
Tentando ir sem desvios, mas as trilhas
São tomadas pelo ódio, ela não anda
Desanda este meu coração, alinha

No meio do nada o desalinho
No fundo a água corria
Mansa pelo caminho
Da cachoeira ela escorria
Através do rio trazia vida

Nada de voltar atrás
Nem mesmo soltar o ar
Talvez deitar e ver

O que a lua deixava perceber
Uma alma livre no ar
Com o coração a transparecer

Verdades

Não
Não há uma só forma
De ver alguém
Não
Nem um modo certo
De julgar
Qual loucura se tem
Daquele desdém
Ofuscar
Não
Não se recebe de alguém
O tilintar
Dos sinos um breve
De você
Um soar
Não
Não negue a alguém
Seu amar
Mesmo que custe
Breve que seja
Seu caminhar

Dádiva

Foi um surto
Uma lágrima
Algo parecido
Um insulto lástima
Foi queda talvez nada
Foi uma fuga
Uma dádiva
Algo como alma
Um breve porém
Talvez um talvez
Quase lua
Quase céu
Quase a ler pele
A maciez
Foi uma fuga
Um breve porém
A fugir sumiu
Sim emergiu
Nesta imensa vida
Neste fio de  talvez

Lampejo

Olhos de luz
Que o corpo
Tão dócil traduz
A voz... ah aquela voz
Dia tempo noite vem
Entre a embriaguez se traduz
Onde está onde se pôs
Olhos de luta
Menina mulher
De mulher se traduz
Da menina que tem
Entre sua embriaguez um anjo
Onde está sua luz
Se quando vejo se traduz
Toda esta aura
Um fino espaço de cheiro
Uma pétala no jardim
Todo um perfume sem jeito
Toda uma forma de luz
Onde vejo este sol
Se na beleza me perco
Se no intelecto lampejo
Faltam uns ais para enfim
Com palavras assim
Ter um breve sossego...